segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Relacionamentos


E lá vem de novo esse tema já tão “desgastado”. Desgastado, porém não consumido. Porque aquilo que se consome no processo, gera novas energias. E o que é desgastado, se inutiliza pelo mau uso. Tema falado e cantado em prosa e verso. Tratado nas mais diferentes linguagens, mas ainda não visto e escutado em sua essência. Não que eu tenha em mim o poder de sentir ou fazer sentir a essência do assunto, mas hoje acordei convocada a escrever sobre ele. Talvez pela minha própria necessidade de me consumir nele. Pensando em temas desgastados e não consumidos, podemos citar o amor, a paz, o próprio evangelho. Já “sabemos” tudo sobre eles, mas e aí? Essa é a pergunta que não cala. Onde estão esses assuntos em mim?

Assistindo por vezes à onipresente televisão, o que vemos é o nosso retrato, do nosso mundo. Por mais que possa haver exageros, ênfases, marketing, etc., lá estamos nós. No filho que maltrata o pai idoso, porque ele já não funciona tão bem; no marido que mata “por amor”; no religioso que não tolera outra religião, porque só a sua “tem” a verdade; na mãe que abandona o filho, que não estava nos “seus planos”; na menina que se prostitui “para sobreviver”; no rapaz que “trabalha” no tráfico por falta de outra oportunidade; no motorista que atropela tudo o que se lhe interponha no caminho (pessoas, animais, sinalização de trânsito); no médico, que por ter muitos empregos, não tem tempo para realizar o seu trabalho; no professor, que para ”ensinar” as letras, desconsidera o sujeito em formação; no advogado que para “defender” seu cliente “interpreta” a lei à sua maneira; no juiz que toma decisões imprevisíveis, porque sujeitas a diversas “interferências”; no político, cuja “polis” se resume aos seus parentes. Mas estamos todos do outro lado também, no idoso maltratado, na mulher agredida, no filho abandonado, no pedófilo, no traficante, no dependente de drogas, na vítima do trânsito, no paciente, no aluno, no réu, no eleitor etc.

Na verdade, os diversos papéis sociais nos cabem igualmente a todos. Se na situação atual nos vemos em alguns deles, no passado já estivemos nos opostos e no futuro, quem sabe?

Como a Lei é de causa e efeito, uma coisa é certa, se hoje somos vítimas, ontem fomos algozes e, se hoje somos algozes, ainda que no passado possamos ter sido vítimas, no futuro o seremos de novo. Por mais que, materialmente, o algoz pareça ganhar da vítima, todos perdem. O verdadeiro ganho só advém quando um deles sai desse papel não para o seu oposto, mas para um papel novo. Quem abre mão dos velhos papéis, infinitamente alternados, de algoz e vítima, se candidata ao papel de protagonista do novo tempo.

O novo tempo nos convoca a assumirmos nosso verdadeiro personagem, o de filhos de Deus e, consequentemente, irmãos uns dos outros e de todos, dos algozes e das vítimas.

Como será possível sair dessa roda viva? Quando vitimado, quero meus direitos e, ao impô-los, torno-me algoz. E daí, o que fazer? Como romper esse círculo vicioso? Transformando-o num círculo virtuoso.

A Irmã Zenóbia, administradora da Casa Transitória, no livro Obreiros da Vida Eterna, da série André Luiz, quando em caravana de socorro às trevas próximas à crosta terrestre, nos oferece o seguinte exemplo: ”Permanecemos aqui em tarefa consoladora e educativa, não o esqueçamos. O serviço de punição dos culpados virá de mais alto... Não temos necessidade da luta corporal, nem da defensiva destruidora e sim, da resistência que o Divino Mestre exemplificou.”

Educando a nós mesmos, respeitando incondicionalmente o outro e mantendo a certeza de que somos todos amorosamente cuidados pelo Pai Maior, ofereceremos nossa melhor contribuição para, investindo nos relacionamentos, gerarmos as energias novas de que todos necessitamos.

Claudete Saraiva

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