quarta-feira, 27 de março de 2013

Amadurecer é desiludir-se sem se desesperançar


Assim nos afirma uma amiga querida de nosso coração. O quanto porém isso se nos afigura de difícil realização. 

Vamos por partes. O que seria desiludir-se? Seria abrir mão dos sonhos infantis que trazemos acerca de sermos melhores do que realmente somos. Quão facilmente nos tomamos pelas nossas realizações exteriores! Se é certo que estamos no esforço de nos melhorarmos, é óbvio que procuraremos caprichar naquilo que fazemos e isso tem o valor do exercício, da disciplina, como construtores da espontaneidade futura no bem.

É claro que hoje somos melhores que há tempos, mas daí e sermos bons no potencial que já poderíamos, vai grande distância. Esse o espaço da ilusão! Passamos a nos reconhecer mais pelo que, por vezes, conseguiremos não fazer de mal, do que pelo potencial de bem que ainda não movimentamos. E achamos que caminhamos muito... Esse é um amoroso mecanismo da lei que nos nutre a autoestima para que nos encorajemos a continuar a caminhada. Certos de que, se já conseguimos isso, havemos de conseguir aquilo. Esse é o espaço da esperança! Mas o que de fato temos construído por dentro, na alma, está lá pacientemente esperando o momento mais oportuno para nos lembrar que a faxina está apenas começada, que as teias e as sujidades acumuladas de longa data ainda não foram acessadas devido à misericórdia Divina, que não nos deixa viver aquilo para o que ainda não estamos aprontados.

Nova conclusão se faz então necessária: Tudo o que vivemos é permitido por Deus para continuarmos nosso processo autoeducativo. Se as nossas realizações cuidadosas falam do nosso esforço, nossos sofrimentos e dores falam da nossa realidade. Aceitá-los como instrumentos de transformação, eis o grande desafio. 

Focalizando a cena em que nos encontramos sofrendo, quase que automaticamente identificaremos o “causador” de nossa dor. E quem é esse, senão um companheiro de caminhada, com questões semelhantes às nossas, que serve tão somente de espelho, onde visualizamos mais algumas imperfeições nossas a serem incorporadas ao pacote que somos nós. Incorporadas sim, porque o primeiro passo para o trabalho de transformação é a aceitação compreensiva do real que existe em nós ainda. Uma vez mais a amiga esperança nos vem lembrar que o mal é sempre passageiro e que o motorista é Deus conduzindo pacientemente todos ao bem e à luz.

A aceitação compreensiva de que temos mais o que suar, não é fácil. O orgulho nos faz acreditar que é mais fácil chorar do que suar. Nova ilusão! Se as lágrimas podem regar a terra árida de nosso coração, só com suor podemos fazer o novo plantio.

Bendigamos então aqueles que, como instrumentos da Lei, nos permitem acessar a mais um aspecto de nós mesmos desconhecido ou negado. Compreendamos empaticamente que o suposto causador da nossa dor, também sofre. E, mais, que acima de qualquer vivência, há a justa vontade do Pai a nos oferecer mais uma oportunidade de ver que já amadurecemos mais um pouco e, portanto, podemos ocupar um pouco mais nosso espaço de co-criadores do mundo melhor. É a esperança dando o arremate.

Claudete Saraiva




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