segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Fortalecimento e endurecimento



Nossa imaturidade, comumente nos faz confundir um com o outro.

Fortalecimento é verdade que liberta das trevas interiores e nos faz confiantes.

Endurecimento é engano que escraviza. É a própria imersão nas trevas interiores, que nos faz medrosos.

O mundo reflete a realidade de nosso coração. Envolvidos pelo mal, que ainda não foi iluminado pelo bem, que ainda não conseguimos produzir; Seguimos acuados na expectativa de que o mal nos acometa repentinamente. Percebemos o outro como adversário.

Só há um adversário, o orgulho que parece nos constituir. Filho do instinto de conservação, com o qual fomos dotados pelo Pai amoroso para aprendermos a valorizar a vida, confunde-se com apego, quando a nossa limitação nos leva a entender a vida como um corpo de matéria, como uma encarnação.

A vida é a trajetória da criação ao encontro voluntário com Deus. É a oportunidade de nos fortalecermos.

Quanto mais fortes, mais flexíveis, mais destemidos, menos apegados e consequentemente menos suscetíveis às necessidades passageiras.

O recebimento de uma atitude do outro como agressão, alerta-nos sobre a nossa própria intimidade com o mal, que o reconhece no outro pela lei da sintonia.

Quanto mais endurecidos, mais orgulhosos, mais agredidos. Só nos sentimos agredidos, porque somos orgulhosos. A fraternidade nos convida a perceber e identificar o melhor do outro através do melhor de nós mesmos. Mesmo que esse melhor seja esforço e/ou fragilidade.

A agressão, supostamente sofrida, tem o papel da vacina que, em inoculando o vírus, convoca o organismo à reação. Reação essa, que deve se transformar em prevenção e vigilância, mas que em alguns casos permite a doença.

Lembramos da história do bambú chinês, que leva 5 anos para brotar, mas quando nasce, cresce a grandes alturas. E quanto mais cresce, mais flexível se torna, chegando mesmo a se curvar até o chão diante das adversidades, voltando em seguida a erguer-se naturalmente. É essa uma postura de atenção difusa, geradora de saúde, porque permite a ação do Pai. Só vivemos aquilo que para nós é educativo.

Que não nos iludamos mais com o endurecimento, que não nos defende de nada, nem mesmo de nós. Apenas nos dá a sensação momentânea e equivocada de termos vencido. O outro é o grande instrumento de fortalecimento para nós, ainda que esse fortalecimento venha envolvido em dor. Crescer dói, porque resistimos, nos rebelamos.

Quando compreendermos que crescer é nos livrarmos das certezas que já não nos servem e abrirmos o coração confiantemente às nossas experiências, será seguramente mais fácil. Vamos perceber as vicissitudes como parte do processo e não mais como adversarias. Dessa forma libertaremos o outro do estigma de adversário e nos libertaremos do lugar de vítima, inaugurando para ambos o espaço de irmãos.

Claudete Saraiva


Nenhum comentário:

Postar um comentário